A crítica abaixo foi escrita por Sara S. Volcan.
Um jovem caminha em uma ponte na direção de uma jaula que contém um enorme urso. Ele então lentamente abre a grande gaiola e deixa o urso se aproximar; o urso rapidamente corre na direção do jovem. Essa é a cena de abertura da série The Bear; que chega para mostrar que entende muito bem o que é criar metáforas.
A série acompanha a história de Carmy, um renomado chef de cozinha que larga sua carreira em Nova Iorque para administrar o restaurante quebrado do seu irmão que cometeu suicídio e deixou nas mãos de Carmy o restaurante da família. Com uma montagem extremamente frenética, a série deixa o espectador confuso em relação ao que está acontecendo no primeiro episódio; mas calma, essa confusão é proposital e é isso que faz a série ser tão inteligente.
Podemos estabelecer que a série aborda o estilo “piscou, passou”: são tantas coisas acontecendo em poucos segundos que é normal o espectador ficar curioso para entender o modo de funcionamento daquele lugar. E, falando em lugar, não se pode negar que a obra é um convite para conhecer a realidade da cidade de Chicago de um modo único. Isso acaba tornando cada episódio ainda mais interessante, visto que não é mais possível contar nos dedos a quantidade de tramas genéricas que falam sobre a beleza e o modo de vida agitado de Nova Iorque.
O personagem de Carmy é intrigante. Você quer entender porque ele largou sua carreira para administrar o restaurante do irmão, porque ele não se impõe quando Rich - o primo que claramente não entende nada de negócios mas administra o restaurante - canta as regras do local e porque ele simplesmente não larga toda aquela confusão e volta para sua vida de chef gastronômico em ascensão. Essas perguntas não deixam de ser respondidas rapidamente, conforme a trama se desenvolve.
Já o personagem de Rich também possui uma história que cativa o espectador. Você consegue amar e detestar o personagem ao mesmo tempo por conta de suas atitudes e falas, além de querer entender um pouco mais sobre sua vida pessoal (algo que eu particularmente espero para a segunda temporada). O ator Ebon Moss-Bachrach, que interpreta o personagem, pode não ser muito conhecido, mas possui grandes chances de concorrer ao Emmy de 2023 na categoria de melhor ator coadjuvante.
A sua atuação é surpreendente diversas vezes e o ator merece ao menos concorrer na premiação. A série, por outro lado, com certeza estará nas categorias principais de melhor série e melhor ator para Jeremy Allen White, que merece levar o prêmio principalmente pelo seu desempenho na abertura do último episódio da série. O ator entrega um belo e profundo monólogo que emociona e capacita o espectador a compreender os sentimentos de Carmy.
Diante disso, a série é completa. Possui uma direção de arte que consegue fazer muito em apenas uma cozinha de restaurante. Outro ponto magnífico é a verdadeira aula de direção de fotografia; principalmente quando olhamos o sétimo episódio que foi produzido quase que inteiro em um plano sequência de 17 minutos com uma qualidade impressionante. Além disso, a obra presenteia o espectador com lindos inserts de refeições e fotografias que contam parte da história de Chicago na abertura do primeiro episódio. Tanto o diretor de fotografia quanto o diretor geral são sábios ao optarem por enquadrar Carmy várias vezes em planos próximos, passando toda a apreensão que o personagem sofre. A escolha da trilha sonora entra para complementar a angústia e a agitação do ambiente.
Assim, “The Bear” veio em silêncio para o streaming sem grandes campanhas de divulgação. Mas a série, por si só, torna-se um agradável convite para apreciar a comida, a cidade de Chicago e a união de amigos que se tornam uma família.
Nota do Crítico: 5.0/5.0 (Perfeito)