Tudo começou lá em 1997, quando J.K Rowling publicou seu primeiro livro, sem pretensões, mas que acabou se tornando um sucesso quase que instantâneo. Depois desse triunfo literário, não demorou muito para que a obra fosse adaptada para as telonas: “Harry Potter e a Pedra Filosofal", chegou em 2001 e foi a primeira de muitas aventuras que viriam a seguir. Certamente, qualquer produção que se inspire em um livro de grande sucesso enfrenta um grave problema: fazer jus ao “filme” que os espectadores já haviam criado em suas próprias mentes. Entretanto, esse não foi um problema para o bruxinho Harry Potter, visto que a grandiosidade que tomou conta dessa saga arrastou consigo uma legião de fãs, que comemoram agora 20 anos desde o primeiro contato com um mundo fantástico inesquecível.
Indiscutivelmente, uma das primeiras qualidades que saltam aos olhos de quem assiste são os aspectos técnicos do longa, visto o seu altíssimo orçamento. Nesse sentido, a direção de arte, comandada por Stuart Craig, é muito bem feita, sendo capaz de criar uma ambientação fiel ao mundo imaginado por Rowling, que insere profundamente o espectador na obra. Nessa linha, o trabalho com os figurinos são igualmente impressionantes, como, por exemplo, as roupas negras e esvoaçantes de Snape, carregando uma imaginação admirável, encantando, ou, nesse caso, amedrontando qualquer um.
Outro ponto que também vale a pena ser destacado é o trabalho musical impecável. A trilha sonora do longa, composta por John Williams, auxilia no processo de ambientação e criação de mundo, com músicas icônicas que são fervorosamente lembradas até hoje. Entretanto, nem tudo o que o diretor Chris Columbus tocou virou ouro. Algumas partes do livro tiveram que ser cortadas, ou suprimidas, para que o filme não ficasse ainda mais longo que os seus 152 minutos. Essa necessidade acabou criando algumas partes da narrativa mais arrastadas e outras sem muita continuidade, por exemplo. Diante de tantos acertos, um dos únicos momentos em que a obra deixa a desejar também são nos efeitos especiais, um pouco datados à época e não alcançando a mesma excelência de todo o resto, soando artificial em muitos momentos - o jogo de quadribol é um bom exemplo disso, apesar de ser emocionante quando visto em tela grande.
O elenco, felizmente, surge como uma grata surpresa aos fãs da saga, carregando a obra com muito carisma. Afinal, quem diria que os desconhecidos Daniel Radcliffe, Rupert Grint e Emma Watson iriam crescer tanto em suas carreiras? No longa, é visível a insegurança dos atores em suas interpretações, entretanto, esse detalhe não estraga em nada a experiência visto que, apesar das atuações não serem magníficas, a química entre eles é tão expressiva, que acaba se tornando um dos maiores motivos do filme funcionar. Nesse sentido, o elenco adulto também é de extrema relevância, trazendo grandes nomes do cinema e teatro britânicos: Maggie Smith dá vida a professora Minerva McGonagall como se tivesse pulado diretamente do livro para as telas. Richard Harris transmite toda a paciência e simpatia de Albus Dumbledore, enquanto que Alan Rickman consegue intimidar na pele do professor Severus Snape.
Harry Potter e a Pedra Filosofal marcou a estreia da saga nas telonas com chave de ouro. Ainda que, de fato, possua problemas, é um filme cativante, encantador e emocionante. O longa foi um bom começo, servindo como aperitivo e aguçando a curiosidade pelos próximos episódios. Afinal, essa obra, na verdade, é muito mais do que uma história de magia para crianças. É uma história sobre perda, transformações, amadurecimento e, acima de tudo, o poder do amor e da amizade, tudo o que precisamos nesse mundo trouxa em que vivemos. E, naquela época, mal sabíamos que o melhor ainda estava por vir.