O cinema de terror dos anos 1970 é conhecido por dar início a uma nova era dentro do gênero: o slasher, caracterizado por filmes que quase sempre envolvem assassinos psicopatas que matam aleatoriamente. Uma das primeiras produções da era de ouro desse subgênero foi “O massacre da serra elétrica” (1974), tornando-se um clássico instantâneo. O impacto dessa obra foi tão grande que influenciou a criação de outras histórias de grande importância para o cinema Hollywoodiano, como é o caso de “ Halloween”, produzido em 1978 por John Carpenter e Debra Hill. O longa alcançou rapidamente o status de referência do horror e continua sendo um grande exemplo de que uma boa ideia pode ser desenvolvida mesmo com poucos recursos.
A narrativa acompanha a história de Michael Myers, que em 1963, ainda criança, assassinou a irmã mais velha e acabou sendo aprisionado num hospital psiquiátrico. Quinze anos depois, ele consegue escapar e parte para uma noite de crimes, fazendo do Halloween da jovem Laurie Strode (Jamie Lee Curtis) uma verdadeira experiência de terror, ao se tornar alvo da fúria insana de um serial killer que mata qualquer um que entrar no seu caminho.
Mesmo após 40 anos de seu lançamento, o roteiro de Halloween consegue se manter eficiente em sua proposta original: a onipresença do terror. Diante disso, ele nos surpreende logo em suas cenas iniciais, que duram mais ou menos cinco minutos, visto que a forma como o primeiro assassinato é trabalhado denota a criação uma atmosfera de suspense bem estruturada. Assim, seja pela cuidadosa direção de Carpenter e seu uso da câmera subjetiva –- a condução da câmera pelos cenários criam uma crescente angústia no espectador –- ou pela icônica trilha sonora , composta pelo próprio Carpenter, o filme aposta na construção de um enredo psicologicamente tenso, ao invés de partir exclusivamente para o horror gráfico.
A partir do prólogo, podemos observar que pouca coisa é estabelecida para o público a respeito de Michael Myers, além do fato de que ele nunca falou nenhuma palavra durante todo esse tempo preso. E é neste momento que a figura do Dr. Loomis (Donald Pleasence) assume importância fundamental, visto que é ele quem nos mostra o perigo que o personagem oferece, assim como deixa claro que a pessoa por trás da máscara perdeu sua humanidade no momento em que assassinou a própria irmã.
Assim, a junção dessas informações acaba tendo um forte impacto na construção de sua personalidade misteriosa. Ademais, vale destacar outra frente de abordagem do longa: o desenvolvimento da rotina na cidade fictícia de Haddonfield com destaque para a final girl, Laurie. Apesar da falta de complexidade dos personagens e os inevitáveis clichês, a protagonista se torna a obsessão do assassino que passa o dia de Halloween a observando como uma presa - gerando o primeiro desconforto no espectador - enquanto espera para cometer uma série de assassinatos a noite.
A partir dessa representação, cabe analisar o caminho criativo peculiar que o filme segue, aterrorizando por méritos próprios. Desse modo, o roteiro de “Halloween” por vezes é absolutamente simples, contudo, toda a ambientação é tão desenvolvida que acaba apagando mesmo os erros pequenos. Nesse sentido, toda a estrutura da narrativa é baseada no dia a dia de seus criadores: Debra Hill, por exemplo, tinha experiências anteriores como babá, assim, os diálogos entre Laurie e suas amigas - que cuidavam de crianças durante a noite - leva em conta os conhecimentos da produtora do longa.
Em vista disso, a obra tornou-se referência do terror slasher, ressignificando a simplicidade do dia a dia para assombrar o público. Assim, a figura de Myers é a chave para tornar o filme atemporal: sem explicações, sem rosto e sem expressões, o serial killer continuará sendo catalisador de pesadelos ao passo que John Carpenter estabelece as inúmeras possibilidades de realizar um filme de qualidade, dispondo da criatividade como força fundamental.
Nota do Crítico: 5.0/5.0 (Perfeito)